domingo, 16 de outubro de 2016

O CADÁVER INSEPULTO DO JORNALISMO BRASILEIRO

O jornalismo brasileiro morreu faz tempo. O pior de tudo é que o cadáver, ainda insepulto, não esfriou e tudo indica que jamais descansará em paz. Morreu, é claro, o bom e grande jornalismo; o jornalismo decente, que um dia fez história no país. Dessa forma, hoje em dia está cada vez mais difícil encontrar algo que se aproveite nos grandes jornais brasileiros. Se surge algo, quase sempre não se acredita, tendo em vista a falta de credibilidade que nossa imprensa vem cultivando desde a década de sessenta. Além disso, os bons jornalistas que ainda insistiam no exercício de manter o cidadão bem informado, passaram a ser considerados dispensáveis e ultrapassados. Quando não, optam por se manterem limpos e se recusam a compactuar com a mediocridade que tem imperado nas redações dos jornalões e revistas semanais, os quais em nada deixam a dever às revistas de fofocas, “mexericos da Candinha” e ao modus operandi dos tabloides londrinos, por exemplo.

A situação política dos últimos anos no Brasil, contribuiu para que muita coisa que estava adormecida na sociedade tupiniquim aflorasse. Jornais, revistas e canais de televisão que sempre pertenceram às famílias tradicionalmente ricas e dominantes optaram por impedir toda e qualquer possibilidade de mudança e crescimento na vida da população mais pobre do país, atacando desmensuradamente toda e qualquer pessoa que levantasse bandeira ou proferisse discurso em prol dos menos favorecidos. E assim se criou, fomentou e se resumiu a sociedade brasileira entre “coxinhas” e “petralhas”. 

O auge desse jornalismo de guerra resultou na deposição da presidenta Dilma Rousseff com o apoio da ampla maioria dos congressistas brasileiros. A efetiva participação dos poderosos grupos de mídia do país se deu da mesmíssima forma como ocorrera quando do apoio ao golpe de 1964. Até mesmo o discurso usado na época voltou com a mesma significação; no entanto vazio e desacreditado, graças ao “fator Internet”, que acabou por possibilitar a veiculação de um discurso muito diferente do discurso jornalístico “chapa branca”.

O jornalismo levado a cabo pelos grandes grupos de mídia no Brasil reproduziu por aqui a mesma estratégia que havia sido posta em prática na Argentina, quando o aparato de comunicação daquele país se comprometeu a derrubar o governo de então. Na ocasião, um importante jornalista argentino denominou esta prática “jornalística” de “jornalismo de guerra”. Por aqui, a mídia nativa não poupou esforços para sangrar o governo eleito democraticamente e, assim, colocar em seu lugar quem bem quisesse, não dando a mínima para a vontade soberana das urnas.  Uma pergunta que se faz é: “quarto poder” não seria uma denominação muito ingênua para uma imprensa com tanto poder?

É claro que nem de longe se defende qualquer ação que coíba ou limite a liberdade de imprensa, bem como a liberdade de expressão. Contudo, muitos jornalistas optaram por ficar calados e fazer “cara de paisagem”, enquanto vários dos seus colegas estavam/estão sendo cerceados e perdendo seus empregos por defenderem a democracia. Como se sente o jornalista que trabalha para uma empresa que tem apoiado sucessivos golpes contra a democracia, contra a liberdade e os direitos do seu povo? Sobre que tipo de assunto pode esse “profissional” discorrer? Como acreditar nas informações que transmite?

Enquanto a imprensa brasileira dava seu “duplo twist carpado”, na tentativa de esconder o óbvio ululante da ruptura democrática ocorrida no país, a imprensa internacional a desmentia e apresentava, como deve fazer o bom jornalismo, os fatos e, contra fatos, sabemos, não há argumentos. 

Aqui, o contraponto se deu pelo compromisso jornalístico dos blogs, mais do que rapidamente taxados de “blogs sujos”. Foi por intermédio de alguns Jornalistas (com “J” maiúsculo), que tinham migrado para a blogosfera, que a informação acerca do que ocorria/ocorre no país assumiu um caráter de criticidade jamais visto na história desse país. O trabalho desses blogueiros difere em muito daquele que tem sido apresentado pela grande imprensa, primeiramente pela qualidade da maioria dos textos que apresentam. Enquanto os grandes jornais e revistas semanais, com raríssimas exceções, têm publicado textos sofríveis, de fazer corar um bom aluno de ensino fundamental, os “blogs sujos” prezam pela excelência da escrita. E isso, para um jornalismo responsável, deveria ser uma questão sine qua non.

Além disso, os blogs são uma alternativa à grande mídia, uma vez que questionam a versão oficial dos fatos, mostrando muito daquilo que os poderosos donos dos meios de comunicação gostariam de esconder. Como muitos blogueiros não recebem dinheiro público, ao contrário dos grandes jornais e revistas, seu único compromisso tem sido com a informação. Por isso mesmo, acabaram por se tornar inimigos declarados dos conglomerados de mídia, bem como da classe política que defende a manutenção de uma história única, repetida infinitamente.

O bom e velho jornalismo brasileiro está mortinho da silva. Em seu lugar, algo que mistura desinformação e entretenimento fútil invade os lares dos incautos e desprevenidos, resultando em rios e mais rios de dinheiro, conseguido à custa daqueles que só conseguem dizer “amém” e reproduzir as asneiras que lhes são sopradas todos os dias por um idiota útil, com uma caneta ou um microfone na mão. 

E nessa ciranda grotesca, este jornalismo de guerra não surtiria efeito se não pudesse contar com o apoio incondicional da ignorância política, das sombras, das forças e das togas. Como escapar à armadilha? A blogosfera é bem ali e está à distância de um clique. 

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