Fortaleza é repleta de gente, de sol e de mar. É uma cidade que é (sempre foi), ao mesmo tempo, bela e cruel. Fortaleza, por exemplo, jamais conseguiu perdoar o escritor Adolfo Caminha (1867 – 1897), por ter sumido no mundo, vida adentro, com uma fortalezense já casada com outro homem. Não que Caminha precisasse de tal perdão para o que quer que fosse, mas é que Fortaleza é assim, linda e esquizofrênica. Em homenagem ao autor de A normalista (1893) e Bom Crioulo (1895), uma ruazinha de dar dó, um beco, por onde quase ninguém caminha. Outros autores cearenses dão nomes a algumas das principais ruas da cidade. Outros, esquecidos estão; esquecidos continuarão.
Parece-nos, no entanto, que algo começa a mudar em terras de Iracema (esperamos não queimar a língua). Dizemos isso, pois quando se aproxima a data em que se celebram os setenta anos do cantor e compositor Belchior, 26/10/16, a cidade se alvoroça para tecer-lhe algumas merecidas homenagens. Não que Belchior, tal qual Caminha, careça de bajulações de qualquer espécie, uma vez que está muito acima da mesmice que impregna nossa sociedade. Belchior, que está no mesmo nível de Bob Dylan, produz para a glória, não para a mísera fama. Do alto, observa a massa passar e, se ela lhe dirige um aceno e agita uma bandeirinha, que bom! Antes tarde do que nunca!
E no conjunto das homenagens que serão prestadas ao poeta de “Alucinação”, duas delas são simplesmente imperdíveis. A primeira, que já está circulando pela cidade, principalmente na rede Cuca, é o solo do mestre Ricardo Guilherme, intitulado “De olhos abertos lhe direi”. Ora, se já é imperdível assistir Ricardo Guilherme executando qualquer que seja o papel, imagine quando esse grande ator se debruça sobre a poesia do também, não menos mestre, Belchior.
Na sequência, será lançado o livro Para Belchior com amor, o qual traz textos de vários autores, a partir da vida e da obra do referido artista. Todas essas atividades estão albergadas no projeto Belchior Sete Zero, idealizado pelo escritor Ricardo Kelmer, o qual também é o organizador do livro, com o objetivo de homenagear o artista cearense. A ideia de Kelmer, fazemos questão de destacar, é extremamente bem vinda, tendo em vista que, no Brasil, tem-se o costume de homenagear, seja quem for, após a morte. Homenageando Belchior, Fortaleza também homenageia Caminha. Homenageia o intelectual, o estudante; bem como cada um dos seus habitantes comuns, que no seu dia a dia lembra, canta e assobia pelo menos uma canção de um dos nossos poetas maiores.
Poeta, pois sua produção não “se limita” ao campo da canção, na construção de “letras”, mas, no que poderíamos chamar aqui de “poema-canção”. Assim sendo, afirmamos, sem medo de errar, que seu trabalho constitui-se como um perfeito repositório da cultura, especificamente nos diálogos que trava com a literatura brasileira e universal.
Poeta, pois sua produção não “se limita” ao campo da canção, na construção de “letras”, mas, no que poderíamos chamar aqui de “poema-canção”. Assim sendo, afirmamos, sem medo de errar, que seu trabalho constitui-se como um perfeito repositório da cultura, especificamente nos diálogos que trava com a literatura brasileira e universal.
Dessa forma, as comemorações dos setenta anos de Belchior, também são um chamado para a necessidade de mais estudos, apreciações e investigações acerca do universo que é sua obra poética.
É hora de arrumar as malas. Fortaleza, com seus “verdes mares bravios”, nos espera.
Viva Fortaleza! Viva Belchior!
Viva Fortaleza! Viva Belchior!
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