sexta-feira, 1 de maio de 2020

O Brasil entre o “e daí?” e o “foda-se”



Em 24h, o Brasil registrou 474 mortes em decorrência do Covid-19. Foram 20 mortes por hora, o que dá uma morte a cada três minutos. A quantidade de mortos, sem se levar em consideração as subnotificações, já superou as mortes ocorridas na China, e não param de crescer. Hospitais e cemitérios estão lotados, famílias estão desesperadas. São homens, mulheres e crianças contaminados, relegados a um canto qualquer de alguma unidade de atendimento médico. Os profissionais da saúde, por sua vez, não estão menos desesperados, pois estão trabalhando além daquilo que podem suportar, sem poder nem ao menos abraçar seus entes queridos. O isolamento social, indispensável para se conter o avanço do vírus, tem afetado a saúde mental de muitos. E o que dizer daquelas famílias que nem sequer podem dar um funeral decente aos seus mortos?

Sim, há um misto de desespero, tristeza e angústia a atacar a população brasileira. O momento, no entanto, não permite a ninguém tripudiar sobre aqueles que votaram no atual mandatário da República e que, infelizmente, estão infectados ou morreram. Esse tipo de atitude serve apenas para nos reduzir enquanto seres humanos, pois, independentemente da situação, a desumanização jamais deve se tornar uma opção, mesmo em tempos de cólera.



Há, no país, um caos generalizado. Tem-se a sensação, comprovada pelas notícias confiáveis que nos chegam, de que pouco ou quase nada tem sido efetivamente feito pelo governo federal para barrar o avanço da contaminação. Enquanto a maioria dos governadores tenta salvar a população dos Estados que comandam, o país é inundado todos os dias por milhares de notícias falsas, muitas delas divulgadas por membros do próprio governo federal, que tentam desconstruir a importância da população se proteger, mantendo-se socialmente isolada. É bastante curioso, por exemplo, que pessoas com nível ralo de educação, como certos parlamentares, por exemplo, insistam em tentar desacreditar cientistas que passaram suas vidas estudando epidemias.  Qual a resposta que a justiça brasileira tem dado a esse tipo de crime? nenhuma. E assim seguimos à deriva, vendo a cada novo dia, covas e covas serem abertas, corpos serem empilhados e a morte a bater-nos à porta.

O país vive, ao mesmo tempo, uma crise política, uma econômica e uma sanitária. Tais crises que, de uma forma ou outra, estão interligadas, não poderiam ter explodido em pior momento. Momento este em que o Brasil carece de uma liderança política que o conduza em meio a tormenta. Mas já faz muito tempo que o Brasil não dispõe de grandes lideranças (se é que algum dia as teve), uma vez que se acostumou à mediocridade do toma-lá-dá-cá, modus operandi eternamente em voga por aqui. Assim, aos mais altos poderes da República são alçados os piores nomes. São filhos e netos de velhas raposas da política nacional, que jamais fizeram algo na vida, a não ser mamar nas tetas do Estado. São vereadores, deputados, governadores e senadores que deixam muito a desejar àquilo que as funções que ocupam exigem. São ignorantes, autoritários e culturalmente despreparados para o desempenho das funções que a Política requer.

Quando surge uma situação emergencial, como a que nos assola, que exige ação e expertise de gestão, a experiência limítrofe de gabinete da maioria desses políticos, não serve para absolutamente nada, assim como também não serve para nada ter chegado a alguma das esferas do poder, simplesmente por ter entupido a Internet de robôs, espalhando as mais imbecis das fake news, aproveitando-se da ignorância de grande parte da população. Em uma situação de crise sanitária, como a que estamos enfrentando, não adianta um político com as características citadas vir a público e dizer que votou no candidato tal, mesmo sabendo que ele era “um jumento”. É ridículo, pois, pelo que me consta, jumento não vota em tigre.

Questionado acerca do crescente número de mortos em decorrência do Coronavírus, o excelentíssimo senhor presidente da república respondeu: “e daí?”. Em qualquer país sério, o referido senhor já teria sido apeado do poder, processado e, provavelmente, preso. Contudo, no Brasil, república de bananas (e bananinhas), na qual os líderes políticos, aliados ao capital, faça chuva, faça sol ou pandemia, trabalham, muitas vezes na calada da noite, contra a população. A herança maldita do escravismo continua cada vez mais forte por aqui. Assim, não nos surpreendamos se ao senhor presidente for perguntado mais uma vez sobre o crescente número de mortos em decorrência do Covid-19 (e em decorrência do descaso do seu governo). A resposta poderá ser um “foda-se”.

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