Em meio a algaravia nonsense que abunda nas mídias nativas, muito se fala, mas pouco se aproveita. Há uma grande necessidade de vociferar, sem o menor desejo de ouvir o outro. Nesse contexto, algumas vozes precisam ser ouvidas, discutidas e analisadas. Quando se dá o caos, dificilmente o bom senso se faz presente. No entanto, não custa tentar. É o que faz Nelson Jobim, no artigo "Quando lula será preso?", publicado no Jornal Zero Hora, do RS.
Nelson Jobim
No Zero Hora
10/04/17
É pergunta recorrente.
Ouvi em palestras, festas, bares, encontros casuais, etc.
Alguns complementam: “Foste Ministro de Lula e da Dilma,
tens que saber…”
Não perguntam qual conduta de Lula seria delituosa.
Nem mesmo perguntam sobre ser, ou não, culpado.
Eles têm como certo a ocorrência do delito, sem descreve-lo.
Pergunto do que se está falando.
A resposta é genérica: é a Lava-Jato.
Pergunto sobre quais são os fatos e os processos judiciais.
Quais as acusações?
Nada sobre fatos, acusações e processos.
Alguns referem-se, por alto, ao Sítio de … (não sabem onde
se localiza), ao apartamento do Guarujá, às afirmações do ex-Senador Delcidio
Amaral, à Petrobrás, ao PT…
Sobre o ex-Senador dizem que ele teria dito algo que não
lembram.
E completam: “está na cara que tem que ser preso”.
Dos fatos não descritos e, mesmo, desconhecidos, e da culpa
afirmada em abstrato se segue a indignação por Lula não ter sido, ainda, preso!
[Lembro da ironia de J.L. Borges: “Mas não vamos falar sobre
fatos. Ninguém se importa com os fatos. Eles são meros pontos de partida para a
invenção e o raciocínio”.]
Tal indignação, para alguns, verte-se em espanto e raiva, ao
mencionarem pesquisas eleitorais, para 2018, em que Lula aparece em primeiro
lugar.
Dizem: “Essa gente é maluca; esse país não dá…”
Qual a origem dessa dispensa de descrição e apuração de
fatos?
Por que a desnecessidade de uma sentença?
Por que a presunção absoluta e certa da culpa?
Por que tal certeza?
Especulo.
Uns, de um facciosismo raivoso, intransigente, esterilizador
da razão, dizem que a Justiça deve ser feita com antecipação.
Sem saber, relacionam e, mesmo, identificam Justiça com
Vingança.
Querem penas radicais e se deliciam com as midiáticas
conduções coercitivas.
Orgulham-se com o histerismo de suas paixões ou ódios.
Lutam por “uma verdade” e não “pela verdade”.
Alguns, porque olham 2018, esperam por uma condenação
rápida, que torne Lula inelegível.
Outros, simplesmente são meros espectadores.
Nada é com eles.
Entre estes, tem os que não concordam com o atropelo, mas
não se manifestam.
Parecem sensíveis à uma “patrulha”, que decorre da exaltação
das emoções, sabotadora da razão e das garantias constitucionais.
Ora, o delito é um atentado à vida coletiva.
Exige repressão.
Mas, tanto é usurpação impedir a repressão do delito, como o
é o desprezo às garantias individuais.
A tolerância e o diálogo são uma exigência da democracia –
asseguram o convívio.
Nietzsche está certo: As convicções são inimigas mais
perigosas da verdade do que as mentiras.
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