Raduan Nassar é um dos grandes nomes da Literatura Brasileira. Autor de obras clássicas como Lavoura Arcaica (1975), Um copo de cólera (1978) e Menina a caminho (1994); foi contemplado com o Prêmio Camões no ano de 2016. Ao receber o Prêmio em fevereiro de 2017, o consagrado autor proferiu um discurso por meio do qual denunciou o governo ilegítimo de Michel Temer, bem como os recorrentes abusos policiais e o lawfare da justiça brasileira.
Posicionando-se assim, Nassar demonstra não apenas dominar os meandros da arte literária, mas também ser consciente da responsabilidade política que recaí sobre todo grande artista, o qual não pode jamais hesitar em assumir posição em defesa do povo, dos direitos humanos e da democracia.
Não nos custa lembrar Walter Benjamim, quando afirma que: "o artista que não consegue tomar partido deve se calar". E Enquanto inúmeros "artistas" brasileiros se calam frente ao óbvio, Raduan Nassar fala; tornando-se, tal qual Chico Buarque, um gigante entre os anões da mediocridade e da alienação. Assim, um Raduan Nassar incomoda muita gente. Um Raduan Nassar recebendo o Prêmio Camões e defendendo a democracia incomoda muito mais.
Abaixo, o discurso de Raduan Nassar:
Posicionando-se assim, Nassar demonstra não apenas dominar os meandros da arte literária, mas também ser consciente da responsabilidade política que recaí sobre todo grande artista, o qual não pode jamais hesitar em assumir posição em defesa do povo, dos direitos humanos e da democracia.
Não nos custa lembrar Walter Benjamim, quando afirma que: "o artista que não consegue tomar partido deve se calar". E Enquanto inúmeros "artistas" brasileiros se calam frente ao óbvio, Raduan Nassar fala; tornando-se, tal qual Chico Buarque, um gigante entre os anões da mediocridade e da alienação. Assim, um Raduan Nassar incomoda muita gente. Um Raduan Nassar recebendo o Prêmio Camões e defendendo a democracia incomoda muito mais.
Raduan Nassar discursa ao receber o Prêmio Camões |
Abaixo, o discurso de Raduan Nassar:
Excelentíssimo Senhor Embaixador de Portugal, Dr. Jorge Cabral.
Senhor Dr. Roberto Freire, Ministro da Cultura do governo em exercício.
Senhora Helena Severo, Presidente da Fundação Biblioteca Nacional.
Professor Jorge Schwartz, Diretor do Museu Lasar Segall.
Saudações a todos os convidados.
Senhor Dr. Roberto Freire, Ministro da Cultura do governo em exercício.
Senhora Helena Severo, Presidente da Fundação Biblioteca Nacional.
Professor Jorge Schwartz, Diretor do Museu Lasar Segall.
Saudações a todos os convidados.
Tive
dificuldade para entender o Prêmio Camões, ainda que concedido pelo voto
unânime do júri. De todo modo, uma honraria a um brasileiro ter sido
contemplado no berço de nossa língua.
Estive em
Portugal em 1976, fascinado pelo país, resplandecente desde a Revolução dos
Cravos no ano anterior. Além de amigos portugueses, fui sempre carinhosamente
acolhido pela imprensa, escritores e meios acadêmicos lusitanos.
Portanto,
Sr. Embaixador, muito obrigado a Portugal.
Infelizmente,
nada é tão azul no nosso Brasil.
Vivemos
tempos sombrios, muito sombrios: invasão na sede do Partido dos Trabalhadores
em São Paulo; invasão na Escola Nacional Florestan Fernandes; invasão nas
escolas de ensino médio em muitos estados; a prisão de Guilherme Boulos, membro
da Coordenação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto; violência contra a
oposição democrática ao manifestar-se na rua. Episódios todos perpetrados por
Alexandre de Moraes.
Com
curriculum mais amplo de truculência, Moraes propiciou também, por omissão, as
tragédias nos presídios de Manaus e Roraima. Prima inclusive por uma
incontinência verbal assustadora, de um partidarismo exacerbado, há vídeo,
atestando a virulência da sua fala. E é esta figura exótica a indicada agora
para o Supremo Tribunal Federal.
Os fatos
mencionados configuram por extensão todo um governo repressor: contra o
trabalhador, contra aposentadorias criteriosas, contra universidades federais
de ensino gratuito, contra a diplomacia ativa e altiva de Celso Amorim. Governo
atrelado por sinal ao neoliberalismo com sua escandalosa concentração da
riqueza, o que vem desgraçando os pobres do mundo inteiro.
Mesmo de
exceção, o governo que está aí foi posto, e continua amparado pelo Ministério
Público e, de resto, pelo Supremo Tribunal Federal.
Prova da
sustentação do governo em exercício aconteceu há três dias, quando o ministro
Celso de Mello, com suas intervenções enfadonhas, acolheu o pleito de Moreira
Franco. Citado 34 vezes numa única delação, o ministro Celso de Mello garantiu,
com foro privilegiado, a blindagem ao alcunhado “Angorá”. E acrescentou um
elogio superlativo a um de seus pares, o ministro Gilmar Mendes, por ter
barrado Lula para a Casa Civil, no governo Dilma. Dois pesos e duas medidas.
É esse o
Supremo que temos, ressalvadas poucas exceções. Coerente com seu passado à
época do regime militar, o mesmo Supremo propiciou a reversão da nossa
democracia: não impediu que Eduardo Cunha, então presidente da Câmara dos
Deputados e réu na Corte, instaurasse o processo de impeachment de Dilma
Rousseff. Íntegra, eleita pelo voto popular, Dilma foi afastada definitivamente
no Senado.
O golpe estava consumado!
Não há como ficar calado.
Obrigado
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