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Foto: Geórgia Cavalcante Carvalho |
A expressão “o espírito
da nação”, cunhada por Hegel, comporta a ideia de que cada sociedade é um
sistema único, ancorado nas suas mais precisas tradições culturais. Cada parte
constituinte dessa sociedade contribui para formar um todo orgânico, não
podendo ser pensada de maneira isolada, ou seja, são partes inseparáveis que
contemplam a arte, as crenças, a língua e os costumes. A ideia hegeliana aliada
ao sentimento telúrico pode resultar em excelentes trabalhos artísticos, haja
vista, o que se pode observar na música de Luiz Gonzaga ou na literatura de
Miguel Torga, por exemplo.
A tese hegeliana, que
antes já existia em Montesquieu, nos vem à mente quando da exposição Bordando a música sobre o Ceará, em
cartaz na galeria BenficArte, do Shopping Benfica, em Fortaleza. A exposição é
o resultado de um projeto coordenado pelas professoras Maria de Nazaré de
Oliveira Fraga, Maria Dalva Santos Alves e Ana Cristina Guimarães Ferreira, com
o patrocínio da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Ceará –
ADUFC.
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Foto: Geórgia Cavalcante Carvalho |
O trabalho consistiu em
selecionar vinte e três letras de músicas que “cantassem o Ceará”. Feita a
seleção, cada canção seria representada por uma tela bordada à mão. Na exposição
letra e tela surgem lado a lado, numa relação intersemiótica. Todas as
bordadeiras que participam da exposição são professoras da Universidade Federal
do Ceará. Para levarem o Projeto adiante, as artistas tiveram que se dedicar ao
estudo dos principais movimentos musicais ocorridos no Estado do Ceará, como o Massafeira e o Pessoal do Ceará; sem se descuidar, no entanto, de vertentes como o
maracatu, o repente, a cantoria, o improviso e o forró.
A execução do Projeto
se deu em duas partes, a saber: realização de seminários a respeito de músicas
sobre o Ceará e a escolha da canção que se tornaria tela. Para tanto, as
bordadeiras ouviram mestres como Alberto Nepomuceno, Lauro Maia, Luiz Assunção,
Patativa do Assaré e Humberto Teixeira; entre muitos outros.
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Foto: Geórgia Cavalcante Carvalho |
As telas que compõem
a exposição Bordando a música sobre o
Ceará descartaram completamente qualquer forma de material industrializado,
tendo sido todas bordadas em tecido de algodão, com agulhas, linhas e
tingimento naturais. Entre as tantas canções transformadas telas bordadas estão “Mucuripe”,
de Fagner e Belchior; “No Ceará é assim”, de Carlos Barroso, “Súplica Cearense”,
de Gordurinha e Nelinho; “Ceará de Luz”, de Mário Mesquita e Arlindo Araújo e "Terral", de Ednardo.
Esperamos que, ao
deixar a BenficArte, a belíssima exposição Bordando
a música sobre o Ceará possa continuar em cartaz também em outros espaços culturais;
não apenas em Fortaleza, mas por todo o Estado, posto que em tudo representa "o espírito
da nação" cearense.
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