sexta-feira, 25 de novembro de 2016

QUANDO TUDO VIRAR BOSTA

Uma grande figura da política brasileira foi presa. Contudo,ao contrário do que tem acontecido quando da prisão de outras personalidades do mundo político, não houve estardalhaços. Não se notou a presença de helicópteros ou agentes policiais devidamente paramentados em seus uniformes camuflados. Nenhuma rua foi fechada. Neste caso, a expressão “tomar as devidas cautelas” estava devidamente registrada no despacho judicial. E a grande mídia? Fez a egípcia!

A parceria justiça-mídia tem dado muito que falar. Há uma grande parcela da população que acha toda essa espetacularização um verdadeiro luxo e quase chega a alcançar êxtases de gozo, quando a olhos vistos a Constituição Federal é aviltada e direitos civis são desrespeitados. Há outra parte, no entanto, que tenta manter o pé no chão dos acontecimentos, se recusando a se deslumbrar com os recorrentes espetáculos da série, na sua enésima temporada.

A prisão do super poderoso ex-parlamentar não cobre ninguém de espanto ou surpresa. É preciso ser muito ingênuo para acreditar naquilo que se vê e muito menos naquilo que se diz no atual contexto brasileiro. E algumas das razões para isso se devem ao fato de que uma imensa parte da população não se vê representada pela mídia. Quando a mídia os apresenta, o faz de forma caricata, pejorativa e desrespeitosa com suas novelas medíocres e seus programas ao melhor estilo “mundo cão”. No que diz respeito à justiça, aí nem se fala. As pessoas mais pobres estão à mercê de juízes que condenam simplesmente pelo prazer de condenar, haja vista as delegacias e presídios sempre superlotados. 

Quando se tenta alardear que está “sendo feito justiça”, por se prender um ou dois gatunos ricos, brancos e gordos; os quais ficarão em celas especiais ou “presos” no conforto de suas mansões, isso não torna a justiça mais próxima ou mais confiável aos olhos dos menos favorecidos. Ao contrário do que se deseja fazer crer, a prisão da grande mente criminosa brasileira dos últimos tempos é, para mais da metade da população, apenas uma cortina de fumaça para desviar a atenção da sociedade para objetivos outros.

A justiça brasileira está longe de ser o que ela acha que é. Para os pobres desse país, todo dia é de dia de repressão, pois a ditadura contra o pobre é permanente e imutável. A justiça, com todo seu aparato midiático e suas ações circenses, cada vez mais se afasta daqueles que dela realmente necessitam. Um exemplo disso é a maneira como são tratados os defensores públicos do país. Os ricos não precisam deles mesmo! Para a população pobre, a justiça brasileira é apenas uma ilusão, uma utopia.

Um dos homens mais poderosos do país foi preso. Em vez de discussões aprofundadas; piadas, memes e toda uma parafernália de inutilidades. De onde quer que esteja, Guy Debord gargalha desesperadamente. Mas, mais profético que Debord, talvez tenha sido Moacyr Franco, quando afirmou que “tudo vira bosta”. Diz ele: “A ditadura e o oprimido/e o programa do partido/tudo vira bosta. A prostituta e o deputado/esse governo e o passado/tudo vira bosta”.

A iconoclasta letra de Moacyr Franco pode muito bem, em tempos tão preocupantes, nos servir de alerta para o que está por vir, ou seja, em meio ao descaso da justiça para com os pobres, a falta de representação política, os recorrentes ataques à democracia e a brincadeira de mau gosto das elites na manipulação das leis em proveito próprio, tudo pode terminar em merda. O problema maior será quando essa merda for jogada “com gosto”, no ventilador. Por enquanto, os ventiladores estão na velocidade mínima. Mas, como a temperatura só tem aumentado, quem viver verá.


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