O Brazil é um caso sério. Na
verdade, um caso seríssimo, que deixaria o próprio doutor Freud de cabelos em
pé. Trata-se de um lugar onde não há nenhum apreço pela ética ou pela moral. Ao
contrário, a cretinice e a hipocrisia se apoderam dos seus mais recônditos
cantos, enquanto os três poderes, oficialmente constituídos chafurdam na lama
da descrença, da corrupção e do desgoverno. Tal situação se acentuou bastante,
quando a chefe política da Ilha, escolhida por mais da metade dos nativos, foi
apeada do cargo de líder supremo por uma corja de opositores políticos,
inconformados com a inserção de nativos menos favorecidos na partilha dos bens
produzidos pela Ilha.
Para que não incorramos em
interpretações equivocadas, referimo-nos aqui, obviamente, ao Brazil (favor não
confundir com Brasil) que, conforme o Dicionário
de lugares imaginários (2003), organizado por Alberto Manguel e Gianni
Guadalupi, é uma ilha na mesma latitude do sul da Irlanda. A origem do nome,
afirmam os autores, talvez seja gaélica, tendo em vista que a palavra Bresail designa um semideus pagão e as
sílabas Bres e ail denotam admiração. O Brazil consiste em um grande anel de terra
em torno de um mar interior pontilhado de ilhotas. O mortal comum não pode
vê-la e somente uns poucos escolhidos foram abençoados com a visão de Brazil.
As informações que nos são
apresentadas por Manguel e Guadalupi foram primeiramente disponibilizadas por
Angelinus Dalorto, em l’Isola Brazil,
publicado em Gênova, no ano de 1325. Feitas as devidas considerações a respeito
da terra a que todos chamam Brazil, podemos tentar compreender como “aos
trancos e barrancos, o Brazil deu no que deu”.
Pois bem. Além do aspecto
insular do Brazil, o que não o ajuda muito, chama bastante atenção a seu respeito
as imensas plantações de bananas, bem como a mansidão e o conformismo do seu
povo; o que contribuiu para que passasse a ser conhecido no Continente como República
de Bananas. Seu nome oficial, no entanto, é EURB – Estado Universal do Reino de
Bresail. O nome é por causa do semideus Bresail, em honra do qual se erigiu uma
estátua gigantesca no coração da ilha, de frente para uma baía, a qual o
antropólogo Claude Lévi-Strauss disse parecer uma boca banguela.
Outro visitante, não menos
curioso que Lévi-Strauss, chegou a dizer, inclusive registrar em livro, que o
Brazil era o país do futuro. O que não disse, no entanto, foi que no Brazil
tudo era evanescente, uma vez que os brazilheiros tinham uma memória de curta
duração. Isso, certamente, os deixava em uma situação muito delicada, pois nem
sempre costumavam lembrar-se daqueles que lhes haviam tomado seu dinheiro e
cassado seus direitos individuais.
Meia dúzia de famílias
controla todos os meios de comunicação da ilha, cabendo-lhes fazer com que os
nativos creiam apenas naquilo que se deseja que creiam. Assim, é bastante comum
ver esses nativos reproduzindo discursos alheios aos seus.
Muito embora o Brazil finja
ser uma unidade sócio-político-cultural, na prática o que se observa é uma
sociedade pautada pela discriminação, o preconceito, a estupidez e o ódio.
Alguns pesquisadores insistem em afirmar que nem sempre foi assim. Dizem até
que o nativo brazilheiro já foi conhecido pelo epíteto de “cordial”, tese que se
mostra difícil de provar atualmente.
No que diz respeito à
estratificação social, observam-se inúmeras classes. Nesse contexto, se destaca
a classe dos políticos, por estarem no poder desde a conquista da ilha pelos
inuites. Desde então, seu modus operandi não
se modificou, sendo pautado pela extrema exploração dos nativos de segunda
classe, objetivando sempre o enriquecimento do 1% mais rico da Ilha. Os
políticos peculiares do Brazil costumam votar (apenas por questões formais,
pois não dão a mínima para o que o povo acha ou deixa de achar) suas leis e
executar suas tenebrosas transações durante a madrugada, enquanto dorme a Ilha,
tão distraída, sem nem ao menos sonhar que está sendo subtraída.
No Brazil, um político é tão
confiável (existem exceções, claro) quanto uma nota de três Olivas (a cédula de
menor valor na Ilha é a de 2 Olivas, moeda que está em circulação na Ilha desde
1964 ). Isso provavelmente se dá, pois, mesmo sendo os políticos mais bem pagos
do arquipélago, constituem uma vergonha enquanto representantes do povo que os
escolhem. É bem certo que não agiriam dessa maneira se não contassem com o
apoio do clã dos togados ou da associação dos patos amarelos minguados; por
exemplo.
Seja como for, a Ilha está
“à deriva”. Não se escutam mais os tambores que bateram intensamente contra o
governo democrático da Ilha. Quase tudo é silêncio. Agora dificilmente se vê
alguém trajando camisas da Seleção Brazilheira de stand up comedy, o esporte nacional, pelas
principais avenidas da Ilha. Há somente um abismo de silêncio e desesperança.
Enquanto dormem, não sabem
os nativos, que o pior ainda está por vir. Pois no Brazil, todo dia é dia de
maldade.
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