terça-feira, 20 de setembro de 2016

O FESTIVAL DE BESTEIRAS QUE ASSOLA O PAÍS

FEBEAPÁsignifica Festival de Besteiras que Assola o País e dá nome ao primeiro livro, de uma série de três, escrito por Sérgio Porto (1923 – 1968), cujo pseudônimo era Stanislaw Ponte Preta. A criação do FEBEAPÁ foi uma maneira encontrada pelo autor, para criticar a ditadura civil-militar instaurada no Brasil de então. A partir de notícias veiculadas nos meios de comunicação da época, Sérgio Porto simulava “notícias” isentas de verdade, como forma de ridicularizar as decisões tomadas pelos golpistas; como, por exemplo, aquela que determinava a prisão de Sófocles, morto há séculos, tendo em vista serem seus escritos e, consequentemente a encenação de suas peças, considerados subversivos e, logo, uma clara forma de atentado ao pudor e aos bons costumes da família brasileira.

Sérgio Porto morreu no ano de 1968, mas o FEBEAPÁ continua, como se diz lá no Nordeste, truando. Tem-se, inclusive, a impressão de que as besteiras observadas por Sérgio Porto em sua época, se mantiveram, se nutriram e deram infinitos filhotinhos, amamentados com o leite da mais pura estupidez. Estupidez, ignorância e burrice em um país onde muitos “pensam” o que as elites querem que eles pensem, constitui-se em uma bomba de altíssimo poder de destruição. E em meio aos tantos absurdos que pululam no nosso cotidiano, acredito que não seria má ideia a recriação, com toda pompa e circunstância, do FEBEAPÁ, versão pós-moderna. A televisão poderia, inclusive, colocar na sua grade de programação; transmitindo alternadamente entre os programas de música e de cozinheiros. Com um pouco mais de vontade, poderia ser criado até uma espécie de FEBEAPÁ kids. Seria uma competição pau a pau com as festas “literárias” feitas pra rico ir e se achar intelectual.

Para um novo FEBEAPÁ não faltam assuntos. Uma breve leitura nas notícias pela Internet (não sugiro os grandes jornais, pois eles já produzem e comercializam suas próprias besteiras. Nesse caso, seria uma concorrência desleal; o que comprometeria a lisura do Festival) já nos permite perceber quanta besteira tem sido dita, escrita e publicada (esse blog está querendo dar sua modesta contribuição) nesse país. Meu povo, é muita besteira pra pouca gente!

Não precisamos ir muito longe, para detectarmos algumas pérolas. Entre tantas, encontramos: “Não somos racistas”; o importante mesmo é a “escola sem partido”; “Chega de Paulo Freire”; “Intervenção militar já”; “Sou mais honesto que Jesus Cristo”; “Não tenho provas, mas tenho convicção”; “Mais Mises, menos Marx”; “estupra, mas não mata”; “rouba, mas faz”; “Não tenho provas, mas a literatura me permite condená-lo”; “Tchau, querida”; “são 30 ou 40 pessoas que gostam de quebrar carros”; “Essas vaias são pra Dilma”; “Isso nunca me aconteceu antes”; “Somos milhares de Cunha”; “As instituições estão funcionando plenamente”; “A Argentina faz parte dos BRICS”; “O New York Times foi pago pelo PT”; “Quero saudar a mandioca”; etc, etc, etc e tal.

Como podemos observar, a recriação do FEBEAPÁ (recriação oficial, uma vez que na prática ele nunca deixou de existir) seria muito bem vinda e poderia ser incluída como data oficial no calendário brasileiro. Trata-se aqui, é claro, de uma modesta proposta. O problema, no entanto, é a dificuldade de se registrarem as ocorrências, tendo em vista a produção de besteiras nessas terras abaixo da linha do Equador ser constante e ininterrupta. Mas, como “Deus é brasileiro” (ops!), tudo pode ser possível. Viva o FEBEAPÁ! Viva a convocação da artista Tomie Ohtake, morta em 2015, para depor na CPI da Lei Rouanet, em 2016.




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