Há autores que, por sua força da sua imaginação criadora (e criativa), conseguem produzir textos que são capazes de nos fazer, enquanto leitores, dançar ao som seco e cortante das suas palavras. Parece que batem palmas para doidos dançarem, eles mesmos tão doidos quanto nós, mortais.
Entre os muitos autores abençoados com o saudável dom dessa loucura, podemos citar Samuel Beckett, Allen Ginsberg, Pagu, Edward Albee, Eugène Ionesco, Keith Richards, Marlon Brando, Frida khalo e, é claro, o maluco-beleza-mor, Raul Seixas; entre inúmeros outros doidinhos e doidões que tornaram esse mundo menos vil, por meio da seríssima e contundente “porralouquice” das suas palavras e ações no jardim das delícias das nossas insanidades cotidianas.
Edward Albee |
Hoje, infelizmente, um dos meus malucos favoritos teve que partir. Passados 88 anos, compartilhando conosco seus maravilhosos trabalhos literários, o vencedor de três prêmios Pulitzer de drama (eu disse três!), Edward Albee (1928 – 2016), morreu nesta sexta-feira, 16/09/16, de doença não divulgada. Algum tempo atrás, quando soube que teria que se submeter a uma delicada cirurgia, Albee fez questão de deixar registrada uma mensagem, a qual só deveria ser divulgada quando morresse. Chegado o dia, eis a mensagem: “A todos vocês que fizeram minha vida tão maravilhosa, excitante e plena, meu agradecimento e todo meu amor”. E ele disse isso como se fosse ele, e não nós, que tivesse que agradecer!
Entre os principais trabalhos de Edward Albee estão as peças A história do zoológico (1959) e Quem tem medo de Virginia Woolf? (1962). Nessas peças, e nas mais de trinta outras que escreveu (a maioria de caráter psicológico), Albee toma a classe alta da sociedade norte-americana como material de construção dos seus textos, enfocando as neuroses observáveis no homem do século XX. Dessa forma, são recorrentes em seus trabalhos, o vício e os problemas decorrentes do álcool, as relações matrimoniais, a religião, a família, a ganância e a ambição; entre outros.
O texto dramatúrgico de Albee mantém estreita aproximação com aqueles do teatro do absurdo, principalmente no que diz respeito aos usos que faz da língua, bem como da acídia resultante da mistura do cômico com o trágico. A obra de Edward Albee é, assim, referência obrigatória não apenas para a compreensão do drama norte-americano, mas para o teatro universal como um todo, uma vez que as temáticas abordadas por ele são tanto universais quanto atemporais.
A partida de Edward Albee deixa uma lacuna na dramaturgia norte-americana, que ainda deverá levar muito tempo para ser preenchida á altura. Com as mortes de Artur Miller e Tennessee Williams, Albee surgiu e se manteve como o grande sucessor do talento dos dois. Com sua ida, quem o sucederá em qualidade? Está posta a questão.
Pois é! Edward Albee partiu. E agora, quem vai bater palmas pra gente dançar?
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