O número de mortos pela
pandemia do Coronavírus não para de crescer. Os números são alarmantes. Na
verdade, assustadores. Enquanto os homens de terno e gravata discutem como
salvar a economia, as pilhas de cadáveres vão se amontoando. Pra que perder
tempo pensando como salvar essa gente preta, pobre e periférica? Esse
pensamento estapafúrdio, que dominou as discussões políticas na Itália ainda no
início da pandemia, acabou por transformar o território italiano numa espécie
de terra devastada. Lá, a morte fez sua morada. Os velhos foram abandonados
para morrer e, tenta-se desesperadamente salvar o restante da população.
A quantidade de mortos
produzidos pela ambição neoliberal aliada à estupidez humana e à incompetência
política já se aproxima da quantidade de mortos comum somente durante as
grandes guerras. Como se não bastasse, tais fatores encontraram campo fértil
num período de movimentos nonsense,
como a defesa do terraplanismo e os movimentos antivacinas, assim como o
ressurgimento de líderes fascistas no mundo inteiro. Essa mistura explosiva,
obviamente, não poderia resultar em nada de bom que se pudesse aproveitar. É o
resultado da saída do esgoto de todo tipo de criatura que só consegue viver nas
sombras. À luz, tornam-se ácidas, violentas e perigosas por seu caráter naturalmente
destrutivo. Nada de positivo lhes é observável. Vivem no ódio e dele se
alimentam. São tóxicas e infecciosas. E assim o são por serem medíocres,
incapazes e incompetentes.
A Balsa da Medusa (Le Randeau de la Méduse), de Théodore Géricault |
E foi exatamente isso que
ocorreu no Brasil pós golpe de 2016, tendo sido alçado ao poder um grupo de
pessoas completamente despreparadas para lidar com o ambiente democrático,
pautando-se por disseminar notícias falsas e perseguir opositores. Em pontos estratégicos
da República foram colocados meros patetas bajuladores e incompetentes. Se não
me falha a memória, até guru tem. Imagine você, caro leitor, que coisa mais
bizarra. No que tudo isso poderia resultar? O momento de maior comprovação do
erro que foi jogar o país nesse abismo, infelizmente se dá justamente agora, em
meio a pandemia apocalíptica que se espraia por sobre o mundo e ameaça varrer a
humanidade da face da terra, redonda, por sinal.
Repetindo os primeiros
erros cometidos pela Itália, o presidente do país sugere que a população ore
bastante, pois o deus dele proverá. Afinal, deve “pensar” ele: “Deus é
brasileiro”. Seria louvável que o senhor presidente ficasse em seu palácio,
orando em família, e deixasse os cientistas trabalharem na tentativa de impedir
o genocídio que se aproxima. Mas não, lá está vossa excelência em cadeia de
rádio e televisão vomitando os maiores absurdos acerca dos cuidados que se deve
ter no que diz respeito a contaminação por Coronavírus. O pronunciamento do
senhor presidente foi, no mínimo, criminoso. Contudo, ele e seus asseclas
continuam a desafiar as Instituições da
República que, com exceção de um ou outro nome, já demonstraram ter se
acovardado. Quando se disse que a eleição de alguém com o perfil autoritário,
irresponsável e incompetente do atual mandatário empurraria o país para o caos,
ouviu-se com frequência que as Instituições brasileiras eram sólidas e
serviriam de freio e contrapeso a qualquer arroubo de autoritarismo que pudesse
advir do referido político. Como se vê, essa foi apenas mais uma daquelas
historinhas para enganar incautos e bovinos em geral.
A praga bate à porta. Em
breve, muito em breve, começarão a se amontoar cadáveres. As janelas batem
panelas para ouvidos moucos. Agora é tarde. É preciso salvar a economia, dizem
os fascistas ricos e inconsequentes. Agora é tarde, não adianta ler Camus. E os
pobres? Fodam-se. Diria aquele general. Dizem, não quero crer, que o Ministro
da Saúde sugeriu chá, canja de galinha e oração para conter a contaminação.
Temos um Nobel de medicina a caminho, quem diria. As igrejas estão abertas.
Deus proverá. Após se amontoar a
primeira pilha de cadáveres, resultado de aglomerações em missas e cultos,
algum padre ou pastor pedirá perdão. Será tarde. Empresários pressionam os
governadores e prefeitos a abrirem o comércio. É preciso lucrar. Lucrar sobre
cadáveres. “A carne mais barata do mercado é a carne negra”. Afinal, serão
apenas 5 ou 7 mil mortos. Todos velhinhos? Cem restaurante chiques não valem a
vida do meu pai de oitenta anos.
Depois da primeira pilha
de cadáveres já será tarde demais. Quem viver, verá.
Parabéns aos
envolvidos.
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