Belchior é, sem sombra de dúvidas, um dos grandes poetas da Música Popular Brasileira. Sua obra é toda ela constituída de questionamentos filosóficos, políticos e sociais. O artista, falecido no dia 30 de abril de 2017 (algumas matérias jornalísticas falam em 29/04), mostrou-se sempre antenado com a situação do ser humano no mundo, especialmente o homem nordestino, brasileiro. Se sua poesia já era considerada por muitos como um diferencial em meio a enxurrada de músicas de letras fáceis, que abundam nos "tristes trópicos"; seu encantamento, como diria Guimarães Rosa, poderá trazer maior visibilidade, mais estudos e pesquisas sobre seu trabalho. Como exemplo de análise da sociedade brasileira, segue a letra "Arte final", na qual o poeta faz várias perguntas sobre o Brasil que parece, como dito naquela canção de Celso Viáfora, ter parado pelo caminho.
ARTE FINAL (BELCHIOR)
Desculpe qualquer coisa, passe outro dia,
Agora eu estou por fora, volto logo,
Não perturbe, pra vocês eu não estou.
Sessão de nostalgia, isto é lá com minha tia,
Isto é lá com minha tia!
Alô, presente, estou chegando,
Alô futuro, já vou!
Alô, presente, estou chegando,
Alô futuro, já vou!
Ora, Ora! Até vocês que ouvi dizer,
São gente quase honesta.
Ora, ora! Até vocês os reis da festa,
Ora, essa! Não confiam mais em mim!
E me tratam como tratam mulher, preto,
Todos entramos no gueto
Quando a coisa entrou no ar.
Mas pegue leve, não empurre, seja breve,
Conheço o meu lugar!
Mas pegue leve, não empurre, seja breve,
Conheço o meu lugar!
Dancei, sei que dancei,
Dancei meu bem!
Mas vem que ainda tem!
Dancei, sei que dancei,
Dancei meu bem!
Mas vem que ainda tem!
Dancei, sei que dancei,
Dancei meu bem!
Mas vem que ainda tem!
Dancei, sei que dancei,
Dancei meu bem!
Mas vem que ainda tem!
E então, my friends?
Bastou vender a minha alma ao diabo,
E lá vem vocês seguindo o mau exemplo.
Entrando numas de vender a própria mãe.
Alguém se atreve a ir comigo
Além do shopping center? Hein? Hein?
Ah! Donde están los estudiantes?
Os rapazes latino-americanos?
Os aventureiros? Os anarquistas? Os artistas?
Os sem-destino? Os rebeldes experimentadores?
Os benditos? Malditos? Os renegados? Os sonhadores?
Esperávamos os alquimistas, e lá vem chegando os bárbaros
Os arrivistas, os consumistas, os mercadores.
Minas, homens não há mais?
Entre o Céu e a Terra não há mais nada
Do que sex, drugs and Rock 'n' Roll?
Por que o Adeus às armas?
Não perguntes por quem os sinos dobram,
Eles dobram por Ri!
Ora, senhoras! Ora, senhores!
Uma boa noite lustrada de neon pra vocês
E o último a sair apague a luz azul do aeroporto
E ainda que mal me pergunte:
"A saída será mesmo o aeroporto?"
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