No
momento em que escrevo, o número de mortos por Covid-19 já passa dos 35 mil. A
República mal se sustenta em pé e a democracia é atacada por pessoas de quase
todos os lados, inclusive por aquelas que juraram defendê-la. À noite, dezenas
de fascistas, munidos de tochas, num arremedo de Ku Klux Klan tupiniquim (aqui,
criamos a figura do supremacista pardo), marcham em direção ao Supremo Tribunal
Federal, numa tentativa torpe e criminosa de emparedar seus ministros. São mais
de 35 mil mortos. O presidente da República, eleito democraticamente, anda a
cavalo e saúda manifestações antidemocráticas. O racismo estrutural e a
perversidade da elite brasileira empurraram um menino negro de cinco anos de
idade do nono andar de um prédio de luxo para a morte. Depois de pagar R$
20.000 pela morte que causou, a madame pôde voltar para casa e terminar de
fazer as unhas. São mais de 35 mil mortes e, pressionados pela força do poder
econômico, prefeitos e governadores autorizam a abertura daquilo que, na
verdade, nunca esteve fechado, o mercado. Seguimos abrindo covas. O governo
nega transparência aos dados que nos dizem o número de mortos. O Brasil segue à
deriva. Golpistas e reacionários formam uma “frente ampla” para combater o
fascismo que eles mesmos ajudaram a chegar ao poder, perseguindo e
criminalizando líderes e partidos de esquerda. A ideia não é derrotar o
fascismo de coturno, mas substituí-lo por um fascismo de sapatênis. O perfil do
presidente no Twitter registra uma frase de Mussolini. Nada mais é feito às
sombras. “Os idiotas perderam a modéstia”.
E
muita gente se pergunta como chegamos até aqui, como o Brasil deu no que deu.
As tentativas de resposta para tais questionamentos são muitas e intensas, que
nem caberiam nesta pobre e limitada crônica. O que sabemos desde sempre é que a
desconstrução desse país, de suas instituições, educação, cultura e saúde faz
parte de um projeto de longo tempo, que tem por objetivo privilegiar a elite
financeira (a classe média acha que faz parte desse projeto), mantendo a
população pobre como eterna escravizada, sem acesso aos bens e serviços mais
básicos, que é aquilo que se espera de nações verdadeiramente democráticas, por
isso mesmo submetida aos ditames e perversidades da classe rica, branca e
poderosa. Na contramão do que se vê no mundo, o vice-presidente brasileiro ousa
afirmar que não há racismo no Brasil. Se em vez de gastar R$ 44.000 em uma
esteira o senhor vice-presidente investisse o dinheiro público em livros e em
bons canais de informação, não nos indignaria tanto. Mas como sabemos, isso não
é preocupação da casa-grande.
A
frase que dá título ao presente texto é parte de um título maior, de um ensaio
do professor Darcy Ribeiro (1922-1997). O ensaio do referido antropólogo
chama-se Aos trancos e barrancos: como o
Brasil deu no que deu, de 1985. Assim como Darcy Ribeiro, inúmeros outros
autores tentaram (e ainda tentam) explicar como o Brasil deu no que deu,
explorando as perseguições políticas, os preconceitos, os genocídios, os golpes
etc.
A seguir, listamos algumas obras que são, a
nosso ver, indispensáveis para a compreensão de um Brasil que se transmuta, mas
na sua essência muda muito pouco. A lista dessas obras, no entanto, não segue
nenhum rigor metodológico ou cronológico. É apenas uma lista posta como
sugestão de leitura, sem nenhuma outra preocupação.
- Os Sertões, de Euclides da Cunha
- Casa-Grande & Senzala, de Gilberto Freyre
- Os Donos do Poder – Formação do patronato político brasileiro, de Raymundo Faoro
- Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda
- Formação do Brasil Contemporâneo, de Caio Prado Júnior
- Formação Econômica do Brasil, de Celso Furtado
- Formação da Literatura Brasileira, de Antonio Candido
- Retrato do Brasil: ensaio sobre a tristeza brasileira, de Paulo Prado
- Carnavais, Malandros e Herois: para uma sociologia do dilema brasileiro, de Roberto DaMatta
- O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro
- Viva o povo brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro
- Os Bestializados – O Rio de Janeiro e a República que não foi, de José Murilo de Carvalho
- Dialética da Colonização, de Alfredo Bosi
- Devassos no paraíso- a homossexualidade no Brasil, da colônia à atualidade, de João Silvério dos Trevisan
- O negro no Brasil, de Júlio José Chiavenato
- O genocídio do negro no Brasil: processo de um racismo mascarado, de Abdias Nascimento
- Em costas negras: uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro (séculos XVIII e XIX), de Manolo Florentino
- Significado do protesto negro, de Florestan Fernandes.
- Pequeno manual antirracista, de Djamila Ribeiro.
- A Invenção do Nordeste e Outras Artes, de Durval Muniz de Albuquerque Júnior
- Brasil: uma biografia, de Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling
- A Elite do Atraso: da escravidão à Lava Jato, de Jessé Souza
- Subcidadania Brasileira: para entender o país além do jeitinho brasileiro, de Jessé Souza
- Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal, de Milton Santos
- O Brasil: território e sociedade no início do século XXI, de Milton Santos e Maria Laura Silveira
- Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire
- Made in Macaíba, de Miguel Nicolelis
Boa leitura!
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