Em meio à pandemia de
Covid-19, a humanidade se vê cada vez mais isolada. Estamos afastados daqueles
e daquelas a quem amamos, e não sabemos muito bem quando nem como tudo isso
acabará. O que já pode ser vislumbrado é que ao final de tudo isso, muitos
estarão bastante traumatizados, uma vez que muita gente não consegue lidar com
a obrigação do isolamento, desenvolvendo, assim, condições que precisarão ser
tratadas por profissionais. A humanidade sairá mentalmente quebrada. E como “consertar”
uma humanidade mentalmente quebrada?
Ao lermos os jornais, notamos
que uma pergunta se faz recorrente: “Ao término da pandemia, sairemos pessoas
melhores ou piores?” Um resposta para essa pergunta precisa levar em
consideração inúmeros fatores de ordem política, histórica e sociocultural. Por
exemplo, os ricos que estão fazendo as carreatas da morte por todo o país, interrompendo
o trânsito em frente aos hospitais, pressionando os governos estaduais a abrir
o comércio, buscando convencer seu funcionário a voltar ao trabalho, se
infectar e morrer para o bem da empresa que o oprime desde sempre, sairão bem,
como sempre se saíram ao longo da história desse país. Para esses senhores,
seus empregados são apenas números. Não são gente. Que morram! Poderíamos
pensar que eles sairiam mentalmente abalados, mas isso certamente não
acontecerá. São predatórios. A fera caçadora não se preocupa com a caça. Assim,
essas pessoas, enroladas na bandeira brasileira, travando as avenidas do país
com seus carros luxuosos, não sairão nem melhores nem piores. Sairão do jeito
que sempre foram, ou seja, mesquinhos, medíocres e felizes na sua estupidez.
As pessoas pobres, por
sua vez, sairão alquebradas, física e mentalmente extenuadas, pois terão
perdido entes queridos, amigos, vizinhos, amores. Tudo que tinham poderá ter
sido posto num saco preto e jogado numa vala coletiva de um cemitério qualquer.
Quem se importará? Os políticos que agora defendem a flexibilização do isolamento
( “pobre bom é pobre morto”), os ricaços
da lista da Forbes ou a grande mídia, que contribuiu para que o esgoto
ascendesse ao poder máximo da República? Ninguém desse grupo, na verdade, se
importará com a tragédia que está por vir, com o genocídio que se avizinha. Os “cidadãos
de segunda classe” estão entregues à própria sorte num país à deriva.
Em meio a tudo isso, contamos
com o silêncio conivente das Instituições que sempre foram extremamente ágeis
quando aqueles que ocupavam o Executivo eram outros, os outros. Estariam tais
Instituições funcionando? E se estão, em favor de quem? Cabe-nos perguntar, por
onde andam os ministros “iluministas” do STF, a Câmara, o Senado, as associações
e organizações que foram tão ativas ao se posicionarem em favor da deposição da
presidenta Dilma Rousseff, por exemplo. Esse silêncio sepulcral se ampliará à
medida em que se abrem centenas de covas nos cemitérios do país. Os cadáveres
pesarão nas costas de todos que se omitiram e foram coniventes com o projeto de
instalação da barbárie no Brasil. Os resultados já estão aí, e penso: como será
difícil esconder tanto cadáver!
Em algum momento a
pandemia passará, uma cura terá sido encontrada, e a sorrir, parafraseando
Cartola, pretenderemos levar a vida. Contudo, não acreditamos que a humanidade
saia melhor de tudo isso. Aqueles que oprimem, retornarão com mais vontade de
oprimir, enquanto a política continuará a bradar e defender que a economia é muito mais importante que a
vida (dos pobres, claro). O ser humano sairá muito pior da pandemia, não por
ser uma criatura naturalmente má, mas por ser, conforme o escritor José de Alencar, “um sistema
de contrariedades”, e não conseguir aprender com aquilo que lhe acontece. Peguemos
qualquer momento da história da humanidade (as Guerras Mundiais, o Holocausto,
a escravidão etc) e veremos que pouco ou quase nada se aprendeu. Reconhecemos,
no entanto, que nada é absoluto e que nenhum manual ou receita pode dizer de
maneira assertiva do que o ser humano é capaz, embora seja previsível.
Do
isolamento, façamos nossas apostas.
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