Recentemente o professor Evandro Brum Pereira, da UERJ, fez um protesto, denunciando o descaso do Governo do Rio de Janeiro para com a educação superior, seus professores alunos e servidores. De repente, não mais que de repente, muitas pessoas o apoiaram, enquanto outras optaram simplesmente por detratá-lo.
Sempre atenta à cena brasileira, a professora Lola Aronovich abriu o debate por meio de um texto publicado em seu blog, o qual reproduzimos aqui. O texto de Aronovich chama-se "MBL diz que professor de universidade pública não trabalha".
De indispensável leitura, o texto de Aronovich está disponível em:
Eis o texto:
Eu lembro quando, uns
cinco ou seis anos atrás, um reaça patrocinado pelo governo Alckmin para atacar
pessoas de esquerda veio no meu Twitter dizer que professor universitário não
trabalha. Eu só joguei pra torcida -- olha o que esse cara tá falando. A reação
foi forte, e o sujeito teve que apagar o tuíte rapidinho. Afinal, qualquer
pessoa minimamente inteligente sabe que professor (seja universitário, seja do
ensino fundamental ou do ensino médio, seja da rede pública ou privada)
trabalha pacas.
O tempo passa, o tempo
voa, o Brasil está infinitamente pior do que há meia década, mas os reaças não
mudam. Continuam odiando professores, que querem controlar através da Lei da
Mordaça, também conhecida como Escola Sem Partido. Acreditam que todo professor
é de esquerda, o que me faz pensar se essa gente já entrou numa sala de aula
ou, no mínimo, numa sala de professores.
Semana passada foi a vez
de outros reaças manifestarem seu ódio por professores.
Começou assim: o
professor de Engenharia Química Evandro Brum Pereira, 61 anos, da UERJ
(Universidade do Estado do Rio de Janeiro), um dos 207 mil servidores que não
receberam o salário de abril, foi para a rua com um cartaz mostrando suas
credenciais (mestrado, doutorado e pós-doutorado no exterior, professor na UERJ
há 19 anos, fluente em inglês, francês e espanhol) e pedindo: "Alguém pode
me arrumar um trabalho? Afinal, preciso pagar minhas contas".
A atitude de Evandro
gerou grande repercussão, e ele recebeu várias propostas -- uma delas para
lecionar no exterior. Mas recusou. Justificou-se: "Eu sou professor com
dedicação exclusiva da Uerj. Amo o que faço, amo dar aula. Continuo na Uerj
sim. É um apelo que a gente faz: olhem com carinho nossa situação. Tentem
solucionar isso o mais rápido possível. Precisamos comer".
Evandro é um dos
funcionários públicos que está sem receber seu salário depois que o Rio,
enterrado pela corrupção, decretou estado de calamidade. Hoje foi publicada uma
reportagem sobre aposentadas que tiveram que voltar a trabalhar (vendendo bala,
por exemplo), porque seu benefício deixou de ser pago. Vários auxiliares
acumularam dívidas (e, consequentemente, problemas de saúde) e vivem de
doações. Grande parte ainda não recebeu o 13o salário de 2016. É uma situação
desesperadora: imagine trabalhar e não ganhar salário? Não ter dinheiro para
pagar as contas, que não deixam de chegar?
Bom, o MBL (Movimento
Brasil Livre) decidiu pegar carona na repercussão do cartaz do professor para
criar um de seus memes. Usando a imagem de Evandro (certamente sem sua
autorização), o movimento escreveu: "Professor concursado recusa proposta
da iniciativa privada. Lá tem que trabalhar pra receber".
Ironicamente, ninguém
sabe ao certo o que o MBL faz da vida ou como sobrevive.
Sabemos que o MBL é
aquele grupo que organizava manifestações para derrubar um governo
legitimamente eleito e combatia a corrupção, enquanto posava ao lado de Eduardo
Cunha e outros políticos não exatamente honestos. Ninguém sabe quem patrocina o
MBL, pois suas contas não são nada transparentes. Obviamente não é um grupo
apartidário. Uma de suas metas é o fim do PT. Há fortes suspeitas que eles têm
apoio de grupos internacionais de direita (como os bilionários irmãos Koch) e
de caixa 2 de partidos como o PMDB, PSDB, DEM e Solidariedade.
É um movimento de
direita, isso está claro. E sabemos que a direita é contra universidades
públicas e gratuitas. Um de seus líderes, Kim Kataguiri, alegou ter largado o
curso de Economia na UFABC porque não tinha nada a aprender com seus
professores. O guru de toda a direita brazuca, Olavo de Carvalho, é também um
sem-diploma que vive falando mal das universidades brasileiras e seus
professores.
Porém, o meme do MBL
"dialogando" com o professor da Uerj bate recordes de mau caratismo.
Não é que o professor se nega a trabalhar e quer receber. É contrário,
estúpido: o professor trabalha, e não recebe. Mas a ideologia do MBL vai além:
ela é contra professor concursado. Ué, reaças não são a favor da meritocracia?
E querem acabar com concursos? Querem que professores e demais servidores sejam
contratados como, por QI (Quem Indica)?
Depois, quando essa
gentinha minúscula é chamada de "golpista" num aeroporto, vem
choramingar nas redes sociais, dizendo-se hostilizada. Quando algum professor
perguntar pra um desses pilantras: "Foi o seu movimento que escreveu que
professor não trabalha?", o MBL vai fazer algum manifesto contra a
doutrinação comunista nas salas de aula.
Mas acho importante você
que é professor ou aluno ou simplesmente alguém que valoriza a educação pública
saber: reaças odeiam professores. E mentem em alto e bom tom que não
trabalhamos.
Diante da repercussão
negativa, o MBL, como todo reaça covarde, apagou o post.
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