Quando Tarsila chegou já era natal. Era uma tarde do dia 25 de dezembro de 2018. Tarsila chegou por volta das 15h. Chegou na rapidez de um mergulho, alegrando nossos olhos e enchendo de alegrias nós que tanto a aguardamos. Tarsila é uma "criança da promessa". Promessa de que tudo aquilo que se volta para a tristeza, a amargura e o ódio se desvaneça quando submetido à luz. Tarsila nos traz a luz, as tintas e as cores de uma nova vida que já não é apenas esboço, mas realidade. Tarsila nasce de uma Mãe maravilhosa. Tudo em sua volta é felicidade e abrigo. Tarsila é uma dádiva ao homem velho que lhe cheira, toca e sorri.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2019
sexta-feira, 4 de janeiro de 2019
Como Bolsonaro convenceu os brasileiros a combater moinhos de vento, por Carla Guimarães
Em um país tropical, cujo nome não quero lembrar, vivia um militar aposentado que defendia a ditadura e que acreditava que o grande erro daquele regime foi não ter matado mais vermelhos. Esse militar, em seus momentos de ócio, se dedicava a fazer campanhas políticas e até chegou a ser deputado. Em quase três décadas no Congresso, aprovou apenas duas leis de sua autoria. Sua grande contribuição, em suas próprias palavras, foi impedir que certos projetos fossem aprovados. Por causa desses projetos, passava noites em claro. “As minorias têm que se curvar às maiorias”, disse em certa ocasião. A luta contra a expansão dos direitos de mulheres, homossexuais, negros e indígenas o consumia por completo. E assim, dormindo pouco e lutando muito, seu cérebro secou de tal maneira que perdeu o juízo. De fato, terminada sua sanidade, um estranho pensamento se instalou em sua mente: tornar-se presidente e sair pelo país com suas armas defendendo os direitos dos homens brancos e ricos. Para alcançar seu nobre objetivo, estava disposto a enfrentar o maior dos perigos, a esquerda radical.
Como foi paraquedista, decidiu se lançar no vazio das redes sociais e enchê-las com incríveis malfeitos
Como foi paraquedista em seu tempo no Exército, decidiu se lançar no vazio das redes sociais e enchê-las com os incríveis malfeitos cometidos por seu recalcitrante inimigo. Onde quer que fosse, advertia sobre o perigo da esquerda, que pretendia instaurar uma ditadura gay no país. Se os seus adversários chegassem ao poder, legalizariam a pedofilia, os bicos das mamadeiras teriam a forma de pênis e, nas escolas, as crianças heterossexuais se tornariam homossexuais por causa de um material didático apelidado de kit gay pelo militar.
Outra de suas grandes preocupações era evitar o avanço do feminismo, uma ideologia que levaria o país inexoravelmente ao apocalipse. O feminismo era capaz de transformar mulheres em monstros peludos cheios de ódio contra o gênero masculino. O objetivo desses monstros era instaurar uma ditadura feminista que, junto com a ditadura gay, perseguiria sem descanso os pobres homens heterossexuais.
Os ativistas que defendem os direitos humanos e a natureza também representavam um risco. Eram um claro obstáculo ao desenvolvimento da nação. “Hoje em dia é muito difícil ser patrão”, defendeu o ex-paraquedista não faz muito tempo. Para ele, os donos das grandes empresas e os latifundiários eram as verdadeiras vítimas esquecidas pelas ONGs. Oprimidos pelos direitos de seus trabalhadores ou pelas leis de preservação da natureza, os patrões são uma espécie indefesa que deve ser protegida. No dicionário de seus seguidores, a palavra “ativista” significava delinquente e “direitos humanos” era pouco mais que um palavrão.
Além de denunciar as terríveis injustiças que seriam perpetradas pela esquerda radical, o militar aposentado oferecia a solução para o grave problema da insegurança no país tropical. “Bandido bom é bandido morto”, gritavam seus acólitos. Seu plano inovador para melhorar a segurança era armar a população. Combater a violência com mais violência. Como ninguém tinha pensado nisso antes?
No dicionário de seus seguidores, a palavra “ativista” significava delinquente
As armas foram, sem dúvida, o grande símbolo de sua cruzada pelo país. Em suas mãos, qualquer objeto se tornou uma alusão a elas. Na falta de um objeto, seus próprios dedos imitavam pistolas e revólveres. O ex-militar fez o gesto de disparar em inúmeras ocasiões, tanto que ninguém se lembrava mais de que tinha 10 dedos. Aqueles que o viram garantiam que ele só tinha dois dedos em cada mão: o indicador e o polegar, ambos manchados de pólvora.
Apesar de se apresentar como um herói à maneira de Chuck Norris, o ex-paraquedista não pôde esconder sua maior fraqueza: o medo do debate. Toda vez que enfrentou um adversário, perdeu seguidores. Os adversários o crivavam com argumentos, disparavam-lhe ideias e o acabavam com dados. Ele estava, pela primeira vez, desarmado e indefeso, perdido no meio de um tiroteio dialético. Portanto, como bom militar, optou por outra estratégia. Quando falava, preferia fazê-lo sozinho, em um discurso; ou de maneira acordada, com um interlocutor amigável. Adorava frases de efeito, geralmente vazias de conteúdo. O discurso de ódio se tornou seu melhor aliado e tirou milhares de intolerantes do armário. Para seus fãs, o desprezo pelas minorias era sinceridade, os ataques à liberdade de expressão eram puro senso comum e a defesa da repressão policial era pragmatismo. Para justificar o discurso de ódio, o carrasco se faz passar por vítima, o perseguidor diz que está sendo perseguido e o covarde se disfarça de herói.
Para surpresa de muitos, o militar aposentado conseguiu transformar seu delírio em realidade e no primeiro dia do novo ano tomou posse como presidente do país tropical. Para os narradores que descrevem suas façanhas é quase impossível explicar como o ex-paraquedista conseguiu convencer uma grande parte da população de que os moinhos de vento eram, na verdade, gigantes.
Carla Guimarães é escritora e jornalista brasileira.
quarta-feira, 2 de janeiro de 2019
A BANANEIRA E A JACA, POR FERNANDO BRITO
A bananeira e a jaca
POR FERNANDO BRITO · 01/01/2019
Ao garoto que, no final dos anos 60, procurava entender como as pessoas agem, minha velha avó ensinava, nas palavras simples de gente que aprendera muito com a vida: “meu filho, não espere que um bananeira lhe dê jacas. você vai falar, falar, falar e ela só dará bananas”.
Os colunistas de O Globo – e donos da sabedoria da classe média, a partir do púlpito da Globonews – se dedicam hoje a falar das jacas que virão da bananeira que vai governar o país.
Na manchete, o jornal dos Marinho diz que “Bolsonaro vai pregar união e austeridade em discurso”. Isso depois de disparos de twitter clamando contra o “marxismo nas escolas” e de um discurso, segundo o jornal, redigido com a ajuda dos filhos, pitbulls notórios da radicalização.
Merval, o bedel da pátria, diz com gravidade afetada que “cabe a ele, Jair Bolsonaro, desanuviar o ambiente político e encaminhar o país para novos rumos, como a vontade majoritária do eleitorado quis. Mas procurando conciliar as partes”.
Bolsonaro, conciliador? “Jacas, jacas”, pede-se à bananeira…
Míriam Leitão, mais desencantada e menos esperançosa coloca a pedra chave no tabuleiro: “o dilema é: como subir impostos [retirando exonerações fiscais], quando se deveria reduzi-los, e como reduzi-los se o rombo é enorme?”.
E sugere que o novo presidente pare com seus rompantes [ jacas, jacas…] e lhe propõe as condições para que a mídia pinte de verde as bananas: “Se o governo continuar alimentando a fantasia de que está lutando contra os grandes jornais e as maiores emissoras de televisão vai desperdiçar tempo, munição e recursos.”
Passa ao largo da compreensão destes gajos que o governo que se instala hoje não tem outro projeto senão o enunciado pelo seu vice-presidente, o General Hamilton Mourão: o desmanche do Estado brasileiro e a abertura do país a uma predação ainda mais selvagem do Brasil.
Bananas não têm sementes e, nas que comumente encontradas, são inférteis: bananeiras apenas rebrotam à medida em que murcham depois de lançarem seus cachos.
E junto a elas, ensina o saber da roça, cuidado com as cobras.
Disponível em: http://www.tijolaco.net/blog/a-bananeira-e-a-jaca/
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