domingo, 30 de julho de 2017

O VOCABULÁRIO FEMINISTA QUE TODOS JÁ DEVERIAM ESTAR DOMINANDO EM 2017


Clara Ferrero

12/07/2017



O que é sororidade? E cultura do estupro? Solucionamos todas as dúvidas neste pequeno dicionário


Se você acredita na igualdade entre homens e mulheres, você é feminista. Por mais evidente que deveria parecer a esta altura, o equívoco na hora de definir o feminismoacaba dando origem a frases como “não acho que é preciso ser feminista nem machista, porque os extremos nunca são bons nem para um lado nem para o outro” (pronunciada pela celebridade espanhola Paula Echevarria) ou “esqueçamos o machismo, o feminismo, ou a puta que o pariu” (Cristina Pedroche, mais uma celebridade espanhola). Qualquer dicionário explica que “o feminismo é a ideologia que defende que as mulheres devem ter os mesmos direitos que os homens”. Isso esclarecido, passamos a definir outros conceitos que podem ser utilizados sobre o feminismo e que continuam suscitando interrogações:

Sororidade: apesar de ser usado há mais de 40 anos, se você procurar esse termo em um dicionário, ela o remeterá para “sonoridade”, depois de afirmar que aquela palavra não está cadastrada. O que para alguns continua a ser uma espécie de erro é, na verdade, um conceito que acaba com todos os preconceitossegundo os quais as mulheres não conseguem ser amigas, que são rivais entre si por natureza ou que são mais cruéis entre elas. Nos anos 70, a escritora norte-americana Kate Millett cunhou o termo sisterhood e depois disso as feministas francesas começaram a usar sororité. Atualmente, a antropóloga e política mexicana Marcela Lagarde, uma das maiores divulgadoras do conceito em língua espanhola, o define como “o apoio recíproco entre as mulheres para se conseguir o poder para todas”. É uma aliança entre as mulheres, que proporciona a confiança, o reconhecimento mútuo da autoridade e o apoio. “Trata-se de pactuar de maneira limitada e pontual algumas coisas com cada vez mais mulheres. Somar e criar vínculos. Assumir que cada uma é um elo no encontro com muitas outras”, escreve Lagarde.

Cultura do estupro: Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma mulher é estuprada a cada 11 minutos. E esse dado se repete no mundo todo. Esse conceito se refere a uma sociedade que permite e tolera as agressões sexuaisse culpa a vítima, se banaliza o estupro ou se considera que não se trata de estupro quando o autor é o companheiro da vítima. Uma sociedade na qual o desejo masculino parece estar a cima de todos os demais e na qual, internacionalmente, apenas 5% dos julgamentos por estupro acabam em condenação, segundo o Alto Comissariado para os Direitos Humanos (ACDH) das Nações Unidas, dirigido por Louise Arbour. Coisas do tipo “é isso que acontece quando você fica bêbada ou por se mostrar demais”, os juízes que perguntam se você “fechou bem as pernas” ou os policiais que questionam as mulheres que ousam fazer uma denúncia, todos esses são exemplos de como a cultura do estupro se perpetua.

Objetificação: Reduzir uma pessoa à condição de coisa. Costuma ser utilizado em referência à objetificação sexual feminina, que não é outra coisa do que tratar as mulheres como objetos, limitando-as a seus atributos sexuais e à sua beleza física, sem levar em conta sua personalidade e sua existência como pessoa. Quando a publicidade exibe as mulheres como objetos de desfrute e de prazer para os homens, ela as objetifica. Quando os programas de televisão contratam moças deslumbrantes que apenas posam ao lado de um apresentador sem dizer nada, as estão objetificando. Quando as mulheres aparecem reduzidas a seus seios e seus traseiros, sem importar aquilo que pensam, estão sendo objetificadas. 

Pussy Hat: O famoso gorro rosa com orelhinhas se popularizou durante as marchas pelos direitos das mulheres realizadas no mundo inteiro no começo deste ano. A ideia partiu de Krista Suh e Jayna Zweiman, uma roteirista de comédia e uma arquiteta fãs de tricô que decidiram transformar a marcha das mulheres em Washington em um rio de gorros de lã cor de rosa. Seu projeto, chamado de Pussyhat Project, em resposta ao grab them from the pussy (pegá-las pela buceta) dito por Trump em uma polêmica gravação, acabou se espalhando em nível global, e até mesmo marcas como Missoni o levaram às passarelas.

Micromachismo: Se um homem diz que não cumpre as tarefas do lar porque “não sabe” ou porque “as mulheres o fazem melhor”, podemos falar em micromachismo. O mesmo ocorre quando o garçom serve a cerveja direto para o homem da mesa sem perguntar quem a pediu, ou quando entrega a conta para ele. O mansplaning (que explicamos mais adiante) também costuma ser incluído nessa categoria. O termo foi cunhado pelo psicólogo argentino Luis Bonino em 1990 para descrever um machismo de “baixa intensidade, suave e cotidiano”. No entanto, vários estudiosos, ativistas e feministas consideram que o termo não é totalmente adequado, pois “micro” minimiza o problema. Diana López Valera, autora de No és país para coños [Este não é um país para xoxotas], explicou a questão para o ELPAÍS da seguinte maneira: “O prefixo ‘micro’ para tornar a coisa mais frágil, menor. Mas, no fim das contas, tudo é machismo puro e simples. O assédio de rua é machismo; no trabalho, também. Falamos em ‘micromachismo’ para nos referir a coisas que não são tão graves como um estupro, por exemplo, mas nós, mulheres, estamos cheias desses ‘micromachismos’”.

Empoderamento: além de ter sido uma das palavras mais procuradas em 2016, o verbo empoderar se tornou uma palavra-chave para contribuir para o avanço social em busca da igualdade entre homens e mulheres. Costuma ser usado em referência à tomada de consciência do poder que as mulheres ostentam individual e coletivamente e que tem a ver com o resgate de sua própria dignidade como pessoa. Na Conferência Mundial das Mulheres, realizada em Pequim em 1995, criou-se um programa em prol do empoderamento da mulher para reforçar o aumento da participação feminina nos processos de tomada de decisões e no acesso ao poder.

Feminicídio: Assassinato de uma mulher em função de seu sexo. Trata-se de um crime de ódio contra mulheres e meninas pelo simples fato de elas serem mulheres ou meninas. Diana Russel foi pioneira no seu uso (‘femicide’, em inglês) e se costuma distinguir entre feminicídio íntimo (cometido por uma pessoa com quem a vítima tinha ou havia tido uma relação sentimental) e não íntimo (perpetrado por uma pessoa ou grupo de pessoas com quem a vítima não tinha ou não havia tido nenhuma relação sentimental ou parentesco). A campanha #NiUnaMenos, que se tornou viral em poucos meses, denuncia os crimes cometidos contra mulheres em países como Argentina ou México depois dos assassinatos, especialmente dramáticos, de Daiana garcía e Yésica Muñoz.

Masculinismo: Movimento que procura a igualdade entre o homem e a mulher da perspectiva masculina. Os masculinistas se queixam de que o feminismo busca a igualdade do ponto de vista da mulher e pretendem obtê-la defendendo os direitos e necessidades dos homens, assim como os valores e atitudes consideradas como tipicamente masculinas. Miguel Lorente, em artigo publicado no Huffpost, faz esta interessante reflexão: “A estratégia atual do machismo é o post-machismo, essa tentativa de revestir de neutralidade as suas exigências e reivindicações a fim de criar a confusão necessária que gere dúvida, passividade e faça com que tudo continue igual. E o post-machismo sabe que a batalha da linguagem é essencial para defender posições e definir realidades, daí o seu interesse, desde o começo, de se contrapor ao feminismo dizendo que este era o mesmo que o machismo. Depois de fracassar com essa comparação grosseira, inventaram a palavra hembrismo [algo como femeanismo] e ao mesmo tempo a usaram acompanhada de palavras como feminazi e mangina, para que a crítica não se limitasse às ideias e chegasse às pessoas que as propunham [...] Agora, falam em masculinismo, que aparece neutro e comparável, no seu sentido, ao conceito de feminismo. Dessa maneira, embora suas palavras cheias de ataques contra a igualdade sejam as mesmas, sua imagem é diferente, e elas se apresentam como mais proativas na busca por essa ‘igualdade real’ que se supõe dirigir as mesmas ações para homens e mulheres e, desse modo, manter a desigualdade atual, sem falar no significado histórico que deu origem à mesma”.

Violência doméstica versus violência machista: É comum encontrar nos meios de comunicação expressões como “violência machista” e “violência doméstica” sendo usadas quase como sinônimos. O Livro de Estilo do EL PAÍS especifica que “não se deve escrever violência de doméstica, e sim violência machista, violência sexista ou violência dos homens. A “violência doméstica” engloba também a praticada contra crianças.

Mansplaining: Quando um homem explica algo a uma mulher, e o faz de maneira condescendente porque dá como certo que sabe mais do que ela, podemos falar de mansplaining. Rebecca Solnit cunhou esse termo em 2008 no seu ensaio Os Homens Explicam Tudo para Mim (Cultrix) para dar nome a uma situação que ela havia vivido numa festa: um homem tentando lhe esclarecer do que se tratava um livro que ela mesma tinha escrito. Como relatava Noelia Ramírez neste artigo, “um exemplo clássico de mansplaining é o tuiteiro aleatório que explicou o que é ciência a uma astronauta da NASA. É só um, mas há muitíssimos outros. O mansplaining está tão enraizado socialmente que até a própria Solnit, uma reputada ensaísta e escritora com mais de duas dezenas de livros publicados, se flagrou duvidando do seu conhecimento e procurando na Internet dados sobre o movimento das mulheres pela paz (sobre o qual ela tinha pesquisado previamente) só porque algumas horas antes um homem a menosprezou, afirmando taxativamente que uma de suas teorias era mentira (não era)”.

Manspreading: Diz-se de quando um passageiro (homem) abre tanto as pernas ao estar sentado no transporte público que ocupa o espaço do passageiro sentado ao seu lado. Em castelhano, poderia ser traduzido como despatarre, e há alguns dias o termo ganhou destaque na imprensa porque a Empresa Municipal de Transportes de Madri anunciou a instalação de adesivos nos ônibusadvertindo contra o “despatarre masculino”. Desde 2013, diversas contas do Tumblr reúnem imagens destes homens esparramados no transporte público, como forma de denunciar seu comportamento e a invasão do espaço pessoal. O imperdível Tumblr chamado One Bro,Two Seats vai um passo além, colocando, graças ao Photoshop, qualquer objeto imaginável entre as pernas dos folgados. O termo surgiu em 2014, quando um blog de notícias de Nova York decidiu batizar essa postura como Man Spread

Disparidade de gênero: O Instituto Andaluz da Mulher a define como a diferença entre as taxas masculina e feminina dentro de uma variável, e se calcula subtraindo taxa feminina da taxa masculina. Ou seja, quanto menor for o índice de disparidade entre homens e mulheres, mais perto estaremos da igualdade. Normalmente se fala em brecha salarial de gênero (refere-se às diferenças salariais entre mulheres e homens, tanto no desempenho de trabalhos iguais como a decorrente da menor remuneração paga a trabalhos tidos como femininos) e desigualdade tecnológica de gênero (designa as desigualdades entre mulheres e homens na formação e no uso das novas tecnologias). Em poucas palavras, é a razão pela qual uma mulher ganha 18,8% menos que seu colega de trabalho homem fazendo exatamente o mesmo.

Patriarcado: É o sistema sociopolítico em que o gênero masculino e a heterossexualidade têm supremacia sobre outros gêneros e sobre outras orientações sexuais. Começou a ser usado nos anos sessenta e setenta, para se referir a uma sociedade na qual, além de prevalecerem os critérios dos homens (patriarcado), as pautas são ditadas exclusivamente por aqueles que consideram apenas a heterossexualidade como algo “normal”. Podemos afirmar que, hoje, é a manifestação política e visível do machismo e da rejeição às diferentes identidades e orientações sexuais.

Androcentrismo: É a visão de mundo que situa o homem como centro de todas as coisas. O macho ocupa uma posição central na sociedade, na cultura e na história. O conceito está muito relacionado com o patriarcado, mas também com a discriminação contra a mulher. Por exemplo, quando em português utilizamos palavras no masculino para nos referirmos conjuntamente a homens e mulheres, estamos sujeitos a uma visão androcêntrica que nos faz interpretar o masculino como universal.

Teto de vidro: conforme a definição da argentina Mabel Burin no artigo Uma hipótese de gênero: o teto de vidro na carreira profissional, trata-se da limitação velada à ascensão profissional das mulheres no interior das organizações. É um obstáculo invisível na carreira das mulheres, difícil de superar, que as impede de chegar a cargos de maior responsabilidade e liderança. É invisível porque não existem leis ou dispositivos sociais estabelecidos e oficiais que imponham uma limitação explícita ao desenvolvimento profissional das mulheres. O termo surgiu nos Estados Unidos na década de 1980 (glass ceiling barriers) e é o motivo pelo qual na maioria das empresas os cargos de responsabilidade continuam sendo monopolizados por homens.

Teste de Bechdel: É um método para avaliar se um roteiro de filme, série, HQ ou outra representação artística cumpre os padrões mínimos contra a brecha de gênero. Foi cunhado quando da publicação do álbum em quadrinhos Dykes to Watch Out For (“Sapatas a observar”) e deve seu nome à sua autora, Alison Bechdel. A roteirista estabeleceu as bases para reconhecer o sexismo na cultura(atualmente, seu teste é muito usado no cinema) na tira The Rule (1985), em que uma mulher diz a outra que só vai ver filmes que cumpram três requisitos: precisam ter no mínimo duas mulheres, as duas personagens precisam conversar entre elas em algum momento do filme, e quando isso acontece elas não podem estar falando sobre um homem. Aplicar a regra a qualquer filme demonstra a proeminência do discurso masculino e revela que grande parte das personagens femininas só existe como escada do protagonista homem.

Feminazi: Popularizada pelo conservador Rush Limbaugh em 1992 para criticar o feminismo militante, essa palavra é usada em sentido pejorativo para se referir a feministas tachadas como radicais, sob o argumento de que o feminismo não procura a igualdade entre homens e mulheres. Em seu livro The Way Things Ought to Be (“Como as coisas deveriam ser”), Limbaugh compara as feministas pró-aborto aos nazistas, referindo-se ao movimento como um “holocausto moderno”. Atualmente, é um insulto frequente na boca de quem pretende desprestigiar o feminismo, e muitas mulheres que lutam pelos direitos femininos são chamadas de feminazis.

Femismo: Esse neologismo é usado em português para definir o “machismo ao contrário”, ou seja, a noção de que as mulheres são superiores aos homens. Costuma ser equiparado à misandria (ódio aos homens). Mas a verdade é que não existem organizações femistas, nem um movimento femista. Portanto, é uma palavra usada pejorativamente por quem se incomoda com o feminismo.

Sexismo: Discriminação das pessoas em razão do sexo. Embora o termo seja utilizado para se referir à discriminação contra ambos os sexos, o fato é que as práticas sexistas afetam principalmente as mulheres, dada a vigência de crenças culturais que as consideram naturalmente inferiores ou desiguais aos homens. Por exemplo, quem acha que as mulheres têm menos capacidade de tomar decisões ou de ocupar postos de liderança está sendo sexista. Também é sexista a atitude de impor uma noção de masculinidade (gênero) aos homens (sexo) e uma noção de feminilidade (gênero) às mulheres (sexo).

Machismo: O machismo pressupõe que as mulheres são por natureza seres inferiores aos homens. Também poderíamos dizer que é um conjunto de crenças, práticas sociais, condutas e atitudes que promovem a negação da mulher como sujeito em diversos âmbitos. Os âmbitos nos quais o gênero feminino é marginalizado podem variar (econômico, familiar, sexual, legislativo…), e, em algumas culturas, dão-se todas as formas de marginalização ao mesmo tempo. Certas vozes apontam que o feminismo não é necessário porque já não vivemos numa sociedade machista. Embora tenham ocorrido grandes avanços em termos de igualdade, vivemos uma miragem. O machismo é a razão pela qual as mulheres não chegam aos cargos de responsabilidade ou pela qual não ganham o mesmo que seus colegas. Também é o motivo que leva as mulheres a serem maltratadas e assassinadas. Porque o machismo mata.

Misoginia: É o ódio ou aversão a mulheres e meninas. Embora sua manifestação mais evidente seja a violência machista (seja física, psicológica ou simbólica), também a humilhação, a discriminação, a marginalização e a objetificação sexual da mulher são formas de misoginia.


sábado, 15 de julho de 2017

UFC CONCEDE TÍTULO DE PROFESSOR EMÉRITO A JOSÉ LINHARES FILHO

"O título que recebo me traz contentamento e incentiva-me o gosto de viver", afirmou o Prof. José Linhares Filho em trecho de seu discurso  após receber o título de Professor Emérito da Universidade Federal do Ceará, em solenidade realizada na noite dessa quinta-feira (13), no auditório da Reitoria.
José Linhares Filho e Custódio Almeida
Em sua fala, o Prof. Custódio Almeida, Vice-Reitor no exercício da Reitoria, assegurou que a concessão da honraria era ato de  reconhecimento ao "docente que ministra aulas memoráveis, o orientador sério e meticuloso, cujos ensinamentos foram repartidos entre gerações de alunos de Letras".

A Profª Odalice de Castro e Silva, escolhida para saudar o novo Professor Emérito da UFC, preferiu destacar "um pouco por experiência própria" (foi sua aluna) o muito que José Linhares Filho ofereceu à Universidade Federal do Ceará, "com sua dedicação, disciplina, na condução de aulas, palestras, conferências, no âmbito de suas atividades docentes na área de literatura portuguesa, atividades conciliadas com pesquisa, extensão, orientação e administração, conduzidas  sempre  de modo sério, criterioso e cortês com alunos e cooperadores".

Admitiu o Prof. José Linhares Filho que Letras foi sempre, para ele, "uma vocação inelutável." E relembrou as primeiras redações "efetivadas, espontaneamente, sobre temas figurados em decalcomania, as quais mereciam a aprovação e o incentivo dos pais, na distante infância em Lavras da Mangabeira". Confessou que sentia "mais facilidade e gosto em decorar os versos de um poema do que os números da tabuada", mas afirma reconhecer a importância e a universalidade da matemática, tanto que a ela dedicou uma ode. No entanto, assegura serem "mais essenciais e comoventes os valores da literatura, especialmente da poesia."

FORMADOR DE GERAÇÕES – Referindo-se  ao homenageado, a Profª Odalice de Castro e Silva afirmou que "muito aprendemos com ele, todos os que tivemos a oportunidade de partilhar de seu vasto saber, de sua vasta cultura, da leveza e segurança com que transitava entre os saberes das humanidades, vivenciando, no cotidiano de seu compromisso de humanista, as metodologias que defendia, no sentido mais profundo do termo, como no dizer do poeta Antonio Machado, 'pelos caminhos feitos ao caminhar'". O Prof. Linhares formou gerações de estudantes e pesquisadores, hoje mestres, doutores, sem jamais deixar de referir-se, com gratidão, aos seus mestres queridos, apontou.
Como para confirmar o que acabara de dizer a Profª Odalice Castro Silva, em trecho de seu discurso o Prof. Linhares citou alguns dos maiores professores do Ceará do magistério de Língua Portuguesa, de Literaturas de Língua Portuguesa, de Teoria da Literatura, de Literatura Comparada e Estilística, com os quais conviveu, "primeiro como aluno, depois como colega". E passou a enumerá-los: Moreira Campos, Artur Eduardo Benevides, Pedro Paulo Montenegro, Carlos D'Alge, José Rebouças Macambira, Antônio Pessoa Pereira, Luiz Tavares Júnior.

GRATIDÃO – O sentimento de gratidão do Prof. Linhares Filho se revelou, também, ao agradecer ao Conselho Universitário, sobretudo a seu presidente, Reitor Henry de Holanda Campos; ao Departamento de Literatura do Centro de Humanidades, e ao Conselho Departamental do Centro, por considerá-lo, em sua generosidade, digno do título outorgado. Fez um agradecimento especial à esposa, Mariazinha, e às filhas Ceiça, Mônica, Catarina e Isabel.

RECONHECIMENTO – Para o Prof. Custódio Almeida, conceder o título de Professor Emérito ao Prof. José Linhares Filho "é um preito de gratidão da Universidade", que "reconhece os méritos que sobejam em Linhares Filho, pelo vasto conhecimento amealhado na área da literatura, pelo talento como poeta e ensaísta e, acima de tudo, pela forma como se dedicou ao magistério, desde que aqui ingressou, em 1969, como professor auxiliar de ensino". Disse ainda o Prof. Custódio "que o título celebra toda uma carreira profissional dedicada a esta Casa, que Martins Filho e um punhado de bravos edificaram nos anos 50 e que chega aos nossos dias como uma grande Universidade, alinhada entre as 10 maiores e melhores do País".
Odalice de Castro Silva e José Linhares Filho

POETA-PROFESSOR – "Em Linhares, se confundem o poeta, o ensaísta e o professor. Um incorpora o outro quando, em sala de aula, discorre sobre os Sermões de Vieira, o romantismo de Almeida Garret, o realismo de Eça e Antero, os heterônimos de Pessoa", ressaltou o Prof. Custódio. "Em meio à dissecação das mais belas páginas da literatura portuguesa, há sempre um interregno sentimental, um espaço para reminiscências que o levam de volta a Lavras da Mangabeira, onde veio à luz, e onde, com certeza, deita suas raízes poéticas. Este professor-poeta, ou poeta-professor – talvez não saibamos jamais onde se esconde a primazia –, é autor de uma vasta obra, com inúmeros títulos assentados nos pagos da poesia, com incontáveis ensaios críticos, peças de oratória e páginas de memória, além de quase duas dezenas de inserções em antologias".

Ao mesmo tempo, ilumina essa produção uma fortuna crítica de alto nível, que disseca o resultado da colheita em mais de quatro décadas de andanças e marinhagens no universo literário. As apreciações sobre essa obra são abundantes e brotam de algumas das fontes mais límpidas da literatura brasileira, como Carlos Drummond de Andrade, que comentou "Frutos da Noite de Trégua", confessando: "Percebe-se que o seu 'pacífico guerreiro' tem o vigor e o talento necessário para dar ao verso toda a melodia e todo o encanto verbal".

Finalizando o discurso, o Prof. Custódio Almeida declarou o orgulho que é para a UFC tê-lo em seus quadros, "por ter contribuído de uma forma notável para que a Instituição avançasse ainda mais no terreno da excelência e na seara da responsabilidade social, fazendo-se imprescindível como tradutora dos mais ricos valores da cearensidade. Daí, o nosso sincero aplauso", concluiu.

SOLENIDADE – A mesa diretora que presidiu a sessão solene do Conselho Universitário para a entrega do título de Professor Emérito ao Prof. José Linhares Filho foi composta pelos professores Custódio Almeida, Odalice de Castro e Silva e Vládia Borges, diretora do Centro de Humanidades; pelo presidente de honra da Academia Cearense de Letras, Murilo Martins; e pelo tenente Alex Leal, representando a Capitania dos Portos do Ceará.   




Fonte: Coordenadoria de Comunicação Social e Marketing Institucional da UFC – fones: 85 3366 7331 e 3366 7938